ARTIGOS
Direito à cultura: lugar de criança também é no museu
Por CAROLINA DE CASTRO WANDERLEY
Publicado em 09/04/2024 às 14:07
Alterado em 09/04/2024 às 14:07
Em recente artigo publicado pela revista francesa BeauxArts, Malika Bauwens lança uma indagação: “Les enfants seraient-ils enfin les bienvenus dans les musées et lieux culturels?”, ou, em livre tradução, Serão as crian&cced🗹il;as finalmente bem-vindas em museus e locais culturais?
É uma pergunta muito pertinente. Muitos de nós têm lembranças de infância quando visitas aos museus eram situações aflitivas: “não toque, não passe a linha, fale baixo!” Ou, por outra, não têm lembrança alguma de explorar um espaço de exposição quando criança. Os museus da nossa época eram inibitórios para o comportamento normal infantil, sua curiosidade e atividade física. Mas será que hoje em dia esta situação mudou?Numa análise da realidade francesa, a matéria de Bauwens detecta uma crescente oferta cultural para crianças em exposições destinadas especificamente a elas. São espaços infantis em instituições culturais, jornadas recreativas e educativas, festivais, dentre outras oportunidades de educação cultural e patrimonial. A autora observa que o aumento de propostas culturais museológicas para as crianças, na França, foi especialmente notado depois da pandemia Covid-2019. Naquele país, inclusive, existe uma associação chamada Môm’Art La famille au musée, que premia museus considerados alegres e re♚cep♎tivos às famílias com crianças.
Mas, por óbvio, nosso desafio aqui não é falarmos sobre as triunfantes iniciativas francesas! É, sim, refletir sobre as crianças brasileiras nos museus. A quarta edição da pesquisa da Fundação Itaú e do Datafolha a respeito dos hábitos culturais dos brasileiros, publicada em 2023, faz uma varredura do interesse da população em produtos culturais variados. Constatou-se que 53% do público brasileiro entrevistado jamais foi a um museu, e que 64% jamais participou de uma visita guiada em um museu. É um número relevante! E, dentre o universo de entrevistados, 23% têm filhos menores de 18 anos, sendo que deles, apenas 3% vão com seus filhos aos museus.Numa busca simples na rede mundial de computadores, percebemos que os estudos sobre crianças e museus no Brasil são raríssimos, quase sempre conduzidos por profissionais da Arte-Educação no âmbito acadêmico, sem apoio do poder público e sem interesse das políticas públicas de cultura, o que é pior.
Notamos que a maioria das exposições que deliberadamente acolhem os pequenos são as de conteúdo científico: temas como a física, mundo marinho, telecomunicações, aviões, astronomia, dinossauros, são a tônica. E mesmo quando o conteúdo é artístico, o enfoque dado 🦂&eacut🧜e; prioritariamente sensorial, como nas exposições imersivas, tão em voga atualmente.
Carolina de Castro Wanderley, advogada, pesquisadora na área de Direito e Literatura, membro do Instituto Brasileiro de Direitos Culturais (IBDCult).
Referências:
BAUWENS, Malika. Les enfants seraient-ils enfin les bienvenus dans les musées et lieux culturels? BeauxArts Magazine. Acessada em 28.03.2024 em
BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente. Lei 8069 de 13 de julho de 1990. Acessada em 03.04.2024 em
HOSHINO, Camilla. Arte além da didática: será que museu é lugar para criança? Lunetas. Acessada em 01.04.2024 em
MÔM’ART La famille au musée. Association Môm’Art. Acessada em 29.03.2024 em
MON Primeiros Passos – O brilho das flores. Museu Oscar Niemeyer. Acessada em 29.03.2024 em
PESQUISA “Hábitos culturais”aponta aumento no consumo de cultura. Fundação Itaú. Acessada em 04.04.2024 em h
PINAFAMÍLIA. Pinacoteca do Estado de São Paulo. Acessada em 26.03.2024 em